sábado, 20 de agosto de 2011

André E. Toyota n°1


As aventuras de Demétrio na terra da Deusa Judit


Lembram-se do Demétrio? Aquele garoto tímido com deficiência visual, que é guiado por sua protetora? Atualmente ele tem 30 anos, e aparentemente resolveu fazer um passeio à África.
Estava, pela primeira vez, desfrutando do contato com a natureza longe das grandes cidades, sua empolgação era grande, tocava nas plantas, sentia o calor do sol escaldante... Já não ouvia mais a voz de sua ente, caminhava e caminhava sem se preocupar com o resto... Ele estava perdido.
Ângela o guiava não para onde ele gostaria de ir, mas onde ele precisaria ir. Já estava próximo de um rio, quando ouviu grunhidos vindo de um animal entristecido e amedrontado, era um veado, e estava ferido nas pernas dianteiras. Demétrio resolveu ajuda-lo, levou-o até o rio, lavou as pernas, e enfaixou o ferimento com partes de sua camiseta.
Ele estava preocupado apenas em ajudar o pobre animal, esqueceu completamente que estava neste momento sendo procurado devido a sua ausência. Os dois adormeceram, e uma ligação se estabeleceu entre as duas mentes. Apesar de estarem no mesmo sonho, apenas Demétrio participou diretamente dos acontecimentos, o veado apenas observou...
Acordei de frente para um imenso breu, e uma luz. Havia um homem deitado, cujo traje parecia recortado, parecia-me familiar e fiquei a observar:
- Nhaan, onde estou? Socorro Ângela, não consigo sem você... - Vozes que vinham do fundo da caverna.
O tempo passava, e aquele homem continuava recolhido. Com fome e fadigado, resolvera sair e averiguar o que havia nas proximidades, cada passo era uma tropeçada, um verdadeiro martírio pelo que pude ver.
Recolhia frutas que percebia ao longo do caminho, acho que estava seguindo um cheiro de carne, algo cozendo... O problema estava armado: uma tribo de nativos canibais, preparando carne humana para o consumo, o número de membros era grande, o alimento era pouco, e aquele homem aparentemente cego chegando, não estava cheirando-me nada bem.
Via os nativos urrarem de alegria por avistarem a comida fresca que saciaria sua fome, eles chegavam cada vez mais perto do alvo, atiravam pedras loucamente. Vi então Demétrio correr, como quem parecia realmente amedrontado, passados alguns segundos e mantendo longe a distância entre a tribo, ele tropeçou e bateu a cabeça intensamente em uma árvore.
Era de se esperar que o grupo viesse a encontrá-lo, mas um de seus membros que estava mais adiantado a sua procura, o encontra antecipadamente, e ao vê-lo, de seu rosto escorre uma lágrima, ele me parecia estar confuso, carregou o corpo desmaiado e o levou a um lugar seguro, onde não poderiam ser encontrados. Não sei qual era o tipo de ligação que eles tinham, mas pareciam ser próximos. Não entendi aquilo e fiquei a observar.
Ao acordar, Demétrio se sente tonto, ele tenta sentir o que há a sua volta, sente o calor do fogo ao seu alcance, e pergunta:
- Quem está ai? Seja quem for me ajude a voltar pra casa!
- Atsu atsu itakuruô! - respondeu o hominídeo.
A estranha relação permitiu aos dois que se entendessem, o hominídeo trouxe frutas para sua alimentação e juntos passaram quase um mês dialogando:
- Sabe onde estou?
- Itara Judit, itara Judit!
- Terra da deusa Judit? Ângela me tira dessa terra bizarra, por favor!  - Demétrio implorava a sua protetora em sua mente.
O jovem demorou a entender que a deusa que cultuavam recebia suas homenagens, dando-lhe os órgãos genitais como oferenda e enterrando-lhes na raíz da árvore "Tuka" e dela retiravam suas ervas medicinais, ótimas para o tratamento do que conhecemos como a doença da malária. O problema é que mesmo o hominídeo se simpatizando com Demétrio, ele gostaria de oferecer seu órgão a Judit, pois o achava "homem da alma pura".
- Oferecer o quê?! Não, olhe só, todos nós temos crença em algo que represente nossa essência, seja ele um deus, uma estátua, uma pedra, uma árvore... Mas este "ser superior" não necessita de oferendas, nem de algo que ele não possa consumir, mas o que ele realmente precisa é da sua devoção como crente, da sua entrega de corpo e alma, porque esse deus mora em cada um de seus "filhos", no mais interno e mais profundo sentimento bom que você guarda, ele vai estar lá, quando sentir raiva, quando sentir solidão, e estará lá, quando sentir gratidão. Apenas agradeça e sinta-se acolhido. - disse Demétrio.
O homem pré-histórico refletiu por 2 duas semanas, até absorver todo conteúdo, pois não sentia raiva, solidão, apenas gratidão. E por este motivo, sentiu-se grato a seu mais novo companheiro de caça. Ensinou-lhe tudo sobre a natureza, coisa que Demétrio tinha pouco conhecimento, ensinou a caçar, a colher, a retirar, mas também a criar, a plantar e a repôr.
Tudo contribuiu para que ambos construíssem mais e mais a bagagem que iriam levar pra casa, quando deixassem seus corpos. O hominídeo já conseguia pronunciar seu nome, e se colocou ao cargo de escolher o próprio: Truta.
Truta resolvera voltar para sua tribo, determinado a ensinar-lhes a cultura humana tal como é descrita pelos mesmos.  Levou o amigo junto é claro.
O grupo já não era o mesmo depois de muitos conflitos, davam risadas, choravam, brincavam, de fato se relacionavam através de sentimentos mais líricos.
Um dia Demétrio e Truta foram caçar, e uma voz suave e tranquila soa na mente de Demétrio:
- Olá querido, dê um abraço em seu avô, você já vai voltar...
Instantaneamente levou um choque de emoção, paralisado ele se lembrava de como era feliz ao lado de seu avô, que partira repentinamente, se debulhou em lágrimas e deu um abraço bem apertado em Truta. Um leão muito feroz chegou e o apunhalou, derrubando-o no chão, quando ia abocanhá-lo...
Raios de sol me despertaram, e eu estava deitado junto a Demétrio, senti uma forte sensação ao vê-lo, me deu uma palmada nas costas, e ficou tagarelando:
- Ângela me disse que você também estava no sonho observando tudo, que meu avô estava lá junto de mim o tempo todo, e que você, bem, você é a reencarnação dele, eu não creio muito nisso...
Fiquei espantado com o comentário, mas não dei atenção para sua tagarela enquanto o levava a uma tribo de índios próxima, para que fosse levado ao Brasil novamente, por fim, fico grato por tê-lo conhecido, talvez se não tivesse me salvado, seria mais um veado comido na natureza.

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