sábado, 20 de agosto de 2011

Natalia Inacio


Aprendendo a amar

                Estava me lembrando do sonho estranhíssimo que tive há uns dias atrás. Nesse dia, muita gente veio me ver aqui nesse Zoológico onde eu vivo, e eu acabei ficando muito cansado. Ao escurecer, eu dormi como uma pedra.
            E então, de repente, eu estava num lugar que nunca tinha visto antes. Provavelmente na África. Mas a época, eu não sabia. Comecei a andar, e ouvi um barulho. Cheguei mais perto, e percebi que eram pessoas fazendo algum tipo de ritual. Para ser mais específico, eram canibais e estavam fazendo um ritual para comerem uma pessoa. Avistei um pouco mais distante do grupo de canibais, uma menina com uma cara muito assustada, amarrada a cordas e pelo jeito ela seria a próxima refeição.
            Decidi ajudar a menina, só não sabia como. Foi aí que eu vi um menino canibal se aproximando dela da forma mais discreta possível, portanto, ele iria ajuda-la. Mas se ele chegasse mais perto, ao resto da tribo perceberia. Então tive uma ideia: fui para o lado oposto de onde a menina estava e comecei a pular e fazer todo tipo de barulho, para atrair a atenção dos canibais. Isso deu certo, e o menino saiu correndo com a menina, e eu logo atrás.
            Chego ao encontro dos dois, que estão conversando em uma caverna. O menino canibal diz:
- Você está bem?
- Só um pouco assustada – responde a menina.
- Se não fosse por esse veado, nós não estaríamos aqui – diz o menino olhando para mim.
- Será que ele nos entende?
- É claro que eu entendo! – digo subitamente.
- Meu Deus! Ele fala! – se espanta a menina.
- Ué, qual é o problema? Vocês também falam! Prazer, meu nome é Benjamin.
- Sou Leandro.
- E eu me chamo Lila.
            E assim passamos a noite toda conversando. Lila contou o seu maior segredo para a gente: ela é uma garota especial, e tudo que ela escreve acontece. Isso nos deixou impressionados, mas ela não pôde provar, pois não tinha onde escrever. Por meio de tantas conversas, percebi que estávamos na Idade da Pedra.
            Passamos o dia seguinte inteiro sem comer, e chegando a noite, estávamos quase mortos de fome. Então Leandro ficou muito estranho. As pupilas dele aumentaram, e ele começou a gritar com Lila. Pegou suas armas feitas de pedra, e saiu correndo atrás dela, como uma caçada a um animal.
            Lila ficou desesperada, e saiu correndo e gritando. Para ajuda-la, eu entrei na frente de Leandro, que me acertou com a arma na perna, mas pelo menos a Lila conseguiu fugir para fora da caverna.
            Então eu desmaiei e fiquei por cerca 6 horas inconsciente.
            Quando volto a ter consciência vejo Lila e Leandro abraçados como velhos amigos, ou até amantes. E não entendendo nada, peço que me contem o que aconteceu.
            Lila conta que quando saiu da caverna, pegou um graveto do chão para escrever na areia alguma coisa que a salvasse.  Pensou em escrever para aparecer alguma comida, mas não sabia se assim ele deixaria de persegui-la. Lembrou então de seu filme favorito quando era criança, e escreveu “O canibal quer me pegar, então, que venha o Rei Leão me salvar”.
            Após isso, ela ouviu um rugido e apareceu um leão enorme e maravilhoso bem ao seu lado. Explicou-lhe rapidamente o que estava acontecendo e pediu sua ajuda.
            Quando Leandro estava se aproximando, o Rei Leão virou-se para ele e deu um rugido amedrontador que fez o canibal cair para trás e aparentemente voltar ao normal.
- Leandro, praticar o canibalismo é um dos atos mais horríveis que um homem pode cometer. É como se você estivesse se alimentando de seu irmão, seu próximo. – disse o leão – E você Lila, não deve se ofender. Isso faz parte da cultura dele, e vai ser difícil desacostumar. Acredito que vocês ainda serão grandes amigos.
            E então o leão vai embora.
            Leandro pede desculpas para Lila e diz que daqui para frente vai tentar ser vegetariano. Ele conta também que simpatizou com ela desde o primeiro momento e que não sabe que quer ela apenas como amiga. Os dois então começam a namorar.
            Eles cuidaram do meu machucado, e minha perna está quase curada. Depois de me contarem a história, Lila vai para fora da caverna e escreve um cardápio com as comidas que mais gosta no chão. E quando elas aparecem, comemos tudo e vamos dormir.
            Quando acordamos, é como se não tivesse passado apenas um dia, e sim dez anos.
            Lila e Leandro estão noivos e irão se casar daqui duas horas.
            Chego ao casamento e percebo que agora fazemos parte de uma tribo muito interessante. O padre é representado pelo homem mais sábio dessa tribo. Lila entra na Igreja. Os dois dizem “sim” ao padre, e na hora do beijo, surge um clarão vindo do céu, e tudo fica branco.
            Então eu acordo e estou mais uma vez no Zoológico.

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